domingo, 9 de agosto de 2009

Descobrimento

(Di Cavalcanti. paisagem colonial urbana. c.1950)

Desembarquei na Ilha de Salvador (acho que era esse o nome) com um rapaz latino que conheci no Continente. Os sobrados de cores vivas em primeiro plano logo me encantaram. Descemos umas escadas, e o rapaz – que era professor e vinha procurar materiais sobre a esquerda – ficou meio chateado com o câmbio alto do dia e a impossibilidade de converter suas notas para a moeda local. Assim que chegamos, perguntei pela violência – como se fosse comum - ao que fui respondido pela existência de tiroteios recorrentes. Em seguida, como que naturalmente após breve observação, indaguei sobre as pessoas negras, que parecia não enxergar o suficiente. Não me lembro de respostas, mas ouvir minha própria pergunta deu-me ciência de que estava numa ex-colônia escravista.


Caminhávamos um pouco ilha adentro, pelo meio de uma das inúmeras íngremes ruas de paralelepípedo. Havia um razoável vai e vem de pessoas, chegando e saindo do pequeno porto. Foi quando, nesse movimento, deparei-me com umas meninas negras conhecidas de outros espaços, com as quais conversei sobre coisas corriqueiras. Neste momento, olhando para o homem que me acompanhava, o descobri amigo de longa data, e conhecido daquelas meninas. Ele era negro também. Nos pomos todos em prosa.


O dia amanheceu ensolarado e saí de casa.