segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

A sensação da rua deserta à noite está naquilo que o escuro esconde e na solidão do risco.

Com a vida é a mesma coisa.

domingo, 17 de janeiro de 2016

Fisiologia da vida vivida

Penso tanto com o estômago que não raro sofro de diarreias mentais.
Tenho maior fome nos olhos do que a boca comporta. É tanta que adquiriram dentes e hábitos canibalescos.
Bebo por secura de espírito e empapuçamento de mundo.
Gozei minhas melhores idéias de tal forma que "esta porra" sempre foi literal.
Respiro tanto desejo que o tédio me sufoca e transpiro por excessos.
Esta fisiologia estranha, de vida vivida, nunca foi ensinada em escola de medicina.
Meus médicos, com sabedoria de esquina, atendem com a contagiosa humanidade de quem adoece por identidade pra se curar com poesia.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Mosaico de um cemitério de azulejos.

Sabia que não parava de me olhar um só instante, como se acaso desviasse o olhar, fosse me perder.
Não queria ser abandonada. Apesar de saber que nunca a abandonaria, ela temia. Temor do sono, do sonho, onde existia a possibilidade da minha ausência.
Temor da morte.
Olhava-me como se fosse o último e fino fio que a ligava a existência.
Na compaixão sentida pelo contato do seu olhar, encontrava a fragilidade da vida em mim, um medo de me quebrar no outro.
Nada supre quem parte porque nos partimos, e nunca é mais a mesma coisa. Falta a vida inteira nossa parte partida.
A gente já nasce sendo partido, e vai se partindo até nossa vez de partir. Mas partimos imenso, pois também fundimos, soldando nas partes partidas, crescendo, embora com aqueles buracos deixados pelos encaixes quebrados.

O mosaico de  um cemitério de azulejos.