sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Peso imenso no peito

Eu tenho um peso imenso no coração. Sinto-lhe a cada momento, a cada respiração. Nos últimos tempos, ando percebendo-lhe com mais força. Esse peso parece ser a origem dos meus risos, das minhas lágrimas, das minhas alegrias, preocupações e tristezas. E é como se sempre estivesse ali alojado, no lado esquerdo do peito, mas só agora percebesse a sua existência, e essa percepção me desse conta da minha própria existência. Uma espécie da calma contemplativa que de uma hora para outra me tomasse, abrindo uma janela incrivelmente panorâmica de mim sobre mim.

É como se tivesse descoberto o mapa dos sentimentos, e agora não quero mais nada além de sentir. Eu os provoco constantemente, buscando aquilo que por tanto tempo ignorei. Só me basta sentir este peso imenso no meu peito.

Outra solução seria procurar um cardiologista. Os efeitos do cigarro podem ser devastadores.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Na varanda


Marcelo vai a varanda da casa de samba para fumar. Outros fumantes também lá se encontram. Enquanto observa o movimento da rua do Riachuelo, tragando o seu cigarro, duas meninas se aproximam do rapaz, conversando animadamente. Acendem seus respectivos
cigarros, e uma delas, olhando um conjunto de balões de festa amarrados na grade da varanda, volta-se para Marcelo com um olhar travesso, e aproximando seu cigarro dos balões, pergunta:

-Posso?

Com um ar blasé, Marcelo responde:

-Fique a vontade.

A menina estoura o primeiro, Marcelo se anima e estoura outro em seguida, e assim seguem até que todos são estourados.A menina volta-se novamente a Marcelo:

- É bom, né!?

O rapaz acena afirmativamente com a cabeça, sem nada dizer.

Em seguida, após um breve momento reflexivo, Marcelo pergunta:

-Escuta, você bem que poderia gostar de mim?

-Sério, e como? - A menina responde ironicamente.

-Não faço a mínima idéia, você quer que eu pense em tudo também?!

A menina e sua amiga soltam uma gargalhada.

-Você é engraçado.

-E você é a menina mais linda que eu já vi.

-Deixa de ser mentiroso, você só está falando isso para me pegar.

-Bem, se o seu auto-estima não a deixa reconhecer este fato, problema é seu, mas não queira
questionar a minha verdade.

Ambas ficam estarrecidas com a resposta do rapaz.

-Você acha que vai conseguir alguma coisa com essa grosseria?

-Eu sei que não, mas fazer o quê, nunca fui bom nisso mesmo.

-Você é muito estranho!

As meninas vão embora, cochichando debochadamente sobre o acontecimento. Pensativo, Marcelo volta novamente o seu olhar para o movimento da rua, acende outro cigarro, e pensa consigo mesmo:

-Por que eu sempre faço isso?