quinta-feira, 30 de abril de 2009

ILUSÃO

Imagino que por volta das três. Meia dúzia de homens bêbados vagando pelas desertas ruas de Niterói. Existe um destino, Oásis, nome sugestivo à circunstância. Um conhecido afiançara o nome para a entrada gratuita. De nada adiantou. Rateando por todos, garantimos uma cortesia. Cinqüenta contos e quinze latas de cerveja.

A casa está cheia. Luzes piscando, funk alto. Dor de cabeça e azia. Umas dez mulheres de lingerie tentam garantir a noite. Jackson está chato, me enchendo com um discurso hipócrita sobre a humanidade das putas e seus sentimentos. Afirmo-lhe a razão, mas pouco importa. Não é o momento, muito menos o lugar para reflexões profundas sobre a condição humana.

Estou enfastiado. Sentado no palco, olho para bundas e peitos nus, morrendo de tesão e sem um puto para saciá-lo. Bendita decisão de deixar o VISA em casa, penso com meus botões. Me sinto solitário. O ambiente tira a vontade de qualquer conversa. Era o que imaginava.

Saindo dos fundos do salão, uma morena alta, robusta , com um belo rosto, encosta-se numa parede próxima. A timidez me impede de dar-lhe atenção. Sinto um toque leve no lóbulo da orelha. Volto-lhe com um olhar gentil e um sorriso sem jeito. Novamente o mesmo gesto. Tomo coragem e puxo-lhe pela mão. Se chama Rossana, e me acha uma gracinha. Forjo uma risada irônica, dizendo-lhe que aquele elogio já valera pelo dia. Tapando a face com as mãos, a moça finge um enrubescimento, não sei se realmente existente.

Papeamos de forma amorosa. Digo-lhe palavras bonitas, elogiando a beleza de seus grandes olhos claros e brinco afirmando que, se pudesse, apresentaria-lhe à minha mãe. Demonstrando carinho, Rossana aconchega sua cabeça em meu peito, e sobrepõe suas pernas às minhas. Envolvo meus braços em suas costas, e ponho-me a acariciar seus cabelos. Com a outra mão livre, aliso a sua delicadamente. Sinto vontade de beijá-la. Sacando meu frouxo estilo, começa me prometendo namoro; depois beijos apaixonados; depois um boquete; depois o Céu. Digo que adoraria tudo, namorar e beijá-la, até o fim dos dias, mas que naquela noite seria impossível. Prometo-lhe um futuro próximo em que tudo se realizaria.

Sustenta-se um silêncio por alguns minutos, nos quais observamos a dança sexual das outras moças. Tento puxar novamente uma conversa, mas em vão. Diz que vai se maquiar, e elegantemente se dirige ao banheiro imundo. Não mais volta.

No decorrer da madrugada, cruzara com ela algumas vezes pela boate, sempre acompanhada de outros. Sabedor da impossibilidade de proporcionar a verdadeira satisfação aquela moça, não me sinto triste. Penso por alguns momentos na possibilidade de cumprir aquela promessa. Possivelmente, não fará a menor diferença para ela, que assim como brutos, deve conviver usualmente com tipos ingênuos como eu. Aproveito contente até a alvorada, saciado da ilusão de ter e ser amado, mesmo que por alguns míseros minutos.

domingo, 5 de abril de 2009

Lábios

Puxando-lhe o pescoço, toquei seus lábios
nunca provei suspiros tão doces.
Segurando-lhe as coxas, encontrei seus lábios
os agudos penetraram-me a espinha.
Havia descoberto a vocação dos meus lábios
Porém quando deixastes meus lábios solitários
eles só haviam de machucar
Por isso você foi embora, levando os seus lábios.
Peguei uma faca e então arranquei os meus,
pois neles só ficaram o que de pior há em mim,
O adeus dos seus lábios.