segunda-feira, 11 de agosto de 2008

04/08 156/1388
CD: Pacote de 28 músicas baixadas do E-Mule, Mallu Magalhães
Filme: Um Grande Garoto, de Paul e Chris Weitz
Ensinamento do dia: Tomar um copo de refrigerante antes de dormir pode causar desarranjos gástricos terríveis.
Corpos de Mulher, Comida, Alcool, Televisão, Cigarros. Os sentidos de Alex eram absorvidos. E a sua personalidade.

Alex passou o domingo consumido pelos sites pornôs. Além de excelentes ensejos para a masturbação, ofereciam uma ampla gama para a consumação do ato sexual no mundo real. Putas, sexo. As punhetas não saciavam. A possibilidade de ter uma mulher, de esfregar sua boca e pênis em um corpo concreto, devorou o seu desejo. Pensamentos. Quisera resistir. Tentou. Ao sair de casa na segunda pela manhã, levou a agenda com os tentadores números de telefone.

Avenida Rio Branco, número 156, sala 1833. A voz feminina que lhe informou o endereço era doce e incrivelmente provocante. Cedeu, iludindo-se de que seria a última vez. Subiu o elevador do prédio comercial imaginando no que iria fazer como uma experiência para os sentidos. A sala do décimo oitavo andar tinha um aspecto asséptico. As putas tinham cara de putas. Eram gordas, com cabelo alisado, artificialmente produzidas segundo a preferência estética difundida pelos meios de comunicação. As três moças se apresentaram, com um ar amoroso e uma fala mecânica. Alex escolheu Kelly.

Não queria consumí-la rapidamente, queria aproveitar aqueles instantes para descobrir-se, de uma maneira que não sabia definir. Pagou uma hora, dinheiro que lhe faria falta, que poderia ser útil em outras coisas. Oitenta reais. Tirou a roupa, tomou uma ducha quente, preocupado em não molhar os cabelos. Odiava indagações, lhe impelia à culpa. Também preocupava-se com a sua carteira, que deixara no quarto. Tentou ser rápido.

O quarto era como um escritório, de paredes feitas de um fino tapume branco, típico de repartições. Cama, mesa de massagens - afinal era uma ¨casa de massagens¨- revistas de sacanagem, um frigobar, uma rádio sintonizada numa estação popular. O ar condicionado era forte. Sentia frio. Saído da água quente, pensava no resfriado que poderia pegar. Kelly entrou. Era gorda, cheia de estrias, tinha de bonito só o rosto. Ofereceu uma massagem a Alex, prontamente aceita. Queria aproveitar bem aquela hora, os complementos íntimos que ficassem para depois. A mulher começo a passar as mãos pelas suas costas, intermitente, desengonçada, era certo que não tinha o menor jeito para a coisa. Deitado de bruços, Alex não relaxava, pensava no tempo. Não passava, sentia tédio. A mulher pediu que virasse. Colocou-lhe o preservativo com a boca. A trepada foi péssima. A visão daquele monte de carne com nome de mulher não o excitava. Gozou rápido, como sempre. A vaca riu. Apesar de impaciente, Alex fez força para ficar até o fim daquela hora. Kelly reiniciou a massagem. O que fazer ante a ditadura do relógio, pensou o jovem. Aquelas mãos grossas passeando pelo seu corpo não lhe causavam prazer ou relaxamento de espécie alguma. Percebia a insatisfação de Kelly pela sua dispersividade, parando a todo momento, inventando desculpas para sair do recinto (melhor nome não traduziria o sentimento de prisão que Alex sentia por aquele espaço). Uma dor de cabeça surgiu-lhe. Vontade de fumar. Após umas palavras gentis e apáticas às putas, pagou e foi embora. Antes de sair, percebeu um quadro, uma figura masculina, postada de frente, abraçando uma feminina, ambas desnudas e sem rostos. Pensou no significado daquele quadro. Pelo menos aquela merda de puteiro tinha uma decoração inteligente.

Ao sair, o jovem ficou refletindo sobre o que fizera. Novamente não conseguiu resistir a sua compulsão, a sua necessidade de consumir. Sentiu-se culpado por aquilo, por sua ansiedade e inércia. Já sabia tudo aquilo de antemão. Fumou uns cigarros, caminhando a passos lentos pelas ruas do Centro. Procurou um bistrô, para tomar um café e escrever sobre a sua experiência. Infantil ilusão, ingênua construção narcisística de uma imagem de intelectual. Nada havia de aprendizado. Criou um personagem com um nome fictício e contou sua estória com palavras de pouca expressão, rápido e impacientemente- o tempo de uma xícara grande de capuccino. Na saída, comprou outro cigarro, lamentando-se com estilo de sua vida infeliz.

sábado, 2 de agosto de 2008

O homem podre na noite

CD: Joshua Tree, U2

Filme: Mundo Cão,de Terry Zwigoff.

Ensinamento do dia: òculos escuros em lugares fechados é uma arrogância ridícula.

Anisha usava calça jeans, camisa branca sem estampa, tênis olympikus de camurça e óculos de grau com armação preta e grossa. A noite era escura e nublada, prometia chuva, mas fazia calor naquele sábado à noite. Saiu sozinho, sem saber muito bem para onde, nem porquê. Sabia somente que queria se divertir, e que certamente não se divertiria. Não perdia a vontade de querer ser um jovem normal. Assim que saiu de casa, acendeu seu cigarro. Seus dentes começavam a apodrecer, alguns já haviam caído, e nas ruínas de sua arcada, Anisha passava as línguas, nervoso, com medo de um câncer de boca. Tinha medo de morrer. Tinha medo de tudo. Queria acabar com isso.
Pegou um ônibus. Foi para a Lapa. Era onde sempre ia parar, por mais que quisesse evitar a mesmisse e criar coisas novas para a sua vida. Queria beber muito, dançar, ser admirado, arrumar uma mulher para fazer sexo. Queria curtir tudo sem culpa. Era difícil. Anisha não tinha nada em sua vida, emprego, amigos, personalidade....Só tinha seus pensamentos de culpa e condescendência consigo. Chegou ao seu destino. Começou a andar, perdido, olhando as pessoas com inveja e admiração, achando-se deslocado mas querendo se alocar. Tinha tesão nas meninas, e nos meninos. Parou em frente a uma boate alternativa. Tomou umas cervejas e fumou uns cigarros, fazendo um estilo falso, vendendo sua imagem, esperando o tesão alheio. Entrou na casa. A música estava boa. Pediu uma cerveja, acendeu outro cigarro e começou a dançar. Tentava pensar que não precisava de ninguém para se divertir e ser feliz. Mas via os outros acompanhados e batia o sentimento de solidão. Dançava sem saber dançar, mas estava longe de não se preocupar com a opinião alheia. Os olhares alheios o oprimiam, sentia-se ridículo, não um louco, loucos são cools, mas um babaca querendo aparecer e digno de pena. Parou e foi ao bar. Pediu outra cerveja. Tinha vergonha de puxar conversa. Se achava feio e sem graça.

Uma menina o atraiu. Tinha cabelos negros, tatuagem nas costas e óculos parecido com os seus. Seria a trepada da noite? A mulher de sua vida? Começou a dançar perto da menina. Tentou trocar olhares com ela. Ela estava acompanhada de amigas. Achou a situação absurda, como ele, tão...tão....tão....demodé, poderia abordar aquela moça. - Olá, achei você linda. - Oi, poderia conversar contigo?- Sua beleza me trouxe até aqui, te desejo absurdamente.Tudo o que pensava parecia insincero, sem imaginação, indigno de atenção. Parou de dançar e voltar para o bar. Estava a menos de uma hora lá dentro. Resolveu ir embora.

Saiu da boate e ficou perambulando pela Lapa. Queria ser legal, mas não conseguia. Ficou um tempo admirando os travestis. Tinha tesão neles. Mas também tinha medo, dos seus desejos, das consequências de sua compulsão pelo prazer. Este era um tabu para ele: prazer!!! Sempre sentia culpa do prazer, não conseguia se livrar do prazer. Pegou o ônibus e voltou para a casa.

Eram duas horas da manhã. As ruas vazias do seu bairro. Chegou em casa, foi para a frente do computador e tocou uma para um vídeo de um belo transsexual e uma mulher. Lavou as mãos da porra que a borrava, comeu três cachorros quentes com refrigerante, escovou duas vezes seus dentes (crente de que ia fazer de sua boca menos podre) e foi deitar-se no sofá onde dormia. Ficou algum tempo olhando para o teto, pensando na vida. A partir de amanhã seria diferente. Sentiu preguiça de pensar. Dormiu.