terça-feira, 29 de junho de 2010

Não há título

As coisas sempre estiveram lá, e isso bastava. Os dias passavam como que naturalmente, era simples pois vivia sem perceber. Não indagava sobre meus atos e sentimentos, agia porque era assim, sentia porque era assim.

Foi quando, num momento difícil de precisar, sobreveio uma estranha sensação de que viver era mais do que "deixar que as coisas fossem assim". Foi quando tudo ficou complicado. Tomava consciência de mim a medida que descobria. Abria-se o horizonte, e diante do novo, me perdia. Pela primeira vez na vida (como todas as verdadeiras primeiras vezes), senti o desespero e o delírio, amalgamados numa existência desprovida de qualquer sentido.

Preciso de mais palavras para continuar essa estória.

domingo, 6 de junho de 2010

palavras ignorantes sobre o amor e a vida

O que falar sobre o amor? Ainda, o que dizer algo a mais além do tanto que já foi dito? Sempre há a dizer algo a mais sobre um sentimento, a medida que cada experiência e cada forma de sentir é singular. Censuram-me por dizer demais que amo as pessoas. Assim como uma palavra possui inúmeros significados, cada enunciação traduz uma relação específica. Eis o que existe de mais irredutível na minha acepção de amor: a palavra sempre incide sobre uma relação ou um desejo por se relacionar. Daí, se expande numa infinitude de ramificações, que constitui isso a que chamamos vida.

Não digo relação como quem diz somente “entrar em contato com”, embora este seja um dos seus principais fundamentos. Quando digo amor a algo ou alguém, digo, antes de tudo, profundidade. Neste objeto encontro não um subserviente à ação, mas uma contigüidade de mim. Constrói-me, assim vivo. É nas tensões mais sofridas, naqueles estranhamentos intensos em que me perco sem qualquer referente disponível, é onde encontro o amor. É no outro que existo, onde adquiro sentido, assisto pelo ângulo impossibilitado pelo ego.

Pode ser que tais reflexões encontrem-se numa espécie de idealização sobre o ser humano. “Homens e mulheres se matam pelo mínimo”, eis o que diz a opinião daqueles que todo dia assistem a crimes absurdos. Nada é pequeno ante os desenvolvimentos possíveis do ato de pensar. Nossos pensamentos são um angustiante campo de possibilidades, em que se desenham narrativas fantásticas e absurdas pautadas em preconceitos inconscientes. Nesses desvarios, acabamos por nos afastar das maravilhas oferecidas pela vida, que somente cobra o preço do risco. Enquanto recompensa, sentimentos desconhecidos, prazeres irresistíveis, paixões intensas e amores (que não precisam de adjetivos).

Ainda há quem fique pensando, quem pondera sobre fatos cujas representações guiam uma leitura do mundo através de categorias essencialistas, a imagem antecedendo à coisa. Essa raiz infeliz acaba por nos aprisionar numa experiência limitadora, eternizando um momento. Reproduzem ou criam regras onde só deveria existir o entregar-se. Foi pelo particular que chegamos a História, é pela fortuna da experiência única que devemos viver.

Não há método.