domingo, 18 de junho de 2017

Sonho

Um cachorro devorava meu pescoço sem parar. Imóvel, abri os olhos e ele ainda estava lá. Desesperado, voltei a fechar os olhos. Ele fora embora, deixando a apenas a dor de dente.

Tristeza

É o assobio de um vento frio num fim de tarde.
O cair das folhas mortas
a colorir o chão de marrom pálido,
como a anemia,
e o corpo descansa,
solitário e suave de suas fraquezas.
O outono é a minha tristeza,
quando lembro da morte
ser parte da vida.

Sobre o amor

Assim é,
intransitiva,
inominável.
A si pertence
como o ar,
e respiramos
sem lamentos
por não ter
este sol,
e nos aquecemos
sem lamentos
por não ter.
esta terra,
e firmes, fincamos
sem lamentos
por não ter.
Necessária por ser
com o que sou,
mesmo sufocado,
queimado,
afundado,
a amo.

Esforço

Entre duas pessoas, existe um caminho.
Alguém tem que percorrê-lo para haver um encontro.
De vez em quando, acidentalmente, não há esforço e é lindo.
Mas acidentes não ocorrem todo dia.
Confesso que ando cansado de ser o único a caminhar.

Morte

Parte minha morreu ontem 
pois pensava demais.
Da matéria putrefata,
voltei ao ventre da criatura
de onde nova vida brotou
num parto violento
com gosto de Dreher, 
Da amargura, potência 
para viver antes de amar
pra gozar antes de sofrer.

Pensamentos de uma viagem de ônibus

Existiam caminhos que não me levavam a lugar nenhum, em que a vida se resumia àquela noite. Tamanha era a urgência diante do drama do amanhã sem encantamento, dos planos, da angústia, que nunca dormi em seus braços. Porque o sonho era vivo.
Um dia o sonho se desprendeu da vida que passou a ser com toda sua potência de realidade. Precisava ficar em pé para me sustentar. O tempo me tirou os sonhos. Definhava. Pela manhã, o tédio me cobrava. Sem dinheiro para os entorpecentes , nem com a morte contava, pois a lucidez me encheu de medo da ausência.

Afirmação esquecida de uma noite

A vida é uma poética louca em que a sequência de fibonacci combina com exu na encruzilhada de uma noite qualquer.