Hoje de madrugada dirigi três horas e meia rumo ao Sul. Era início de Carnaval. Cheguei a uma localidade próxima a fronteira com a Colômbia e quase fui, mas regressei para o Carnaval.
Não sei dirigir e a fronteira com a Colômbia fica ao Norte. Tive pena de ter acordado e descoberto que não era Carnaval.
segunda-feira, 20 de junho de 2016
quinta-feira, 2 de junho de 2016
Carta de amor
Não
recordamos e todo esforço seria vão. Se soubéssemos, toda a existência deixaria
o tempo. “No começo era o verbo, e o verbo era Deus.” Fomos pré-mitológicos
porque somos de antes do verbo. Viemos da anti-matéria de vontade pura. Naquela
amemorialidade, havíamos em reticências de cosmos, tantos e tamanhos quanto o
imensurável, o incalculável, o intraduzível. A Ausência tão imensa quanto o
reverso último da onipotência
Acho
que a primeira lembrança foi o início. Começou no exato instante em que
indaguei se estávamos certos. Não recordo dos objetos das certezas porque não
existiam. Foi a palavra nosso pecado original, pois dela nasceu o mundo. O
certo deu a partida do tempo que foi pensamento. Pensamento é semente forte que
brota em qualquer terreno e aflora. E tudo o que vinga um dia morre.
Te
indaguei a palavra e também começastes a pensar. Tentastes recusar inutilmente,
pois depois do som logo semeou. Apareceu a mudança. Era inevitável que com o
certo viesse o errado, e já eram duas sementes. Não tivemos escolha e nascemos.
Começamos
a nos reparar o que antes apenas víamos, e tentamos fazer o certo. Apareceu o
respeito mútuo, as noções de espaço e tempo alheios. Da palavra brotada em
pensamento floresceu o mundo, e recusá-lo era errado.
Tivemos,
e tudo o que tínhamos passou a ser nosso. Viver era o rastro deixado pela
extensão dos planos efetuados nas horas, dias, anos. Chamávamos de conquista o
acúmulo do que passávamos pelo tempo. Mas viver nunca bastava, sempre
significava, nos despistando de nossas necessidades inexistentes. Descobrimos
assim a infertilidade das ervas daninhas, diziam que éramos felizes, ainda
dizem e de fato nos achamos nesta condição.
Não
sabemos nossa fertilidade porque ainda é pouco, tão pouco que sempre será por
mais que seja. Nos amamos pelo que nos falta.
Um
dia nos reencontraremos aquilo que era antes do mundo. Este imenso nada que nos
falta. Como o coração de um buraco negro.
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