04/08 156/1388
CD: Pacote de 28 músicas baixadas do E-Mule, Mallu Magalhães
Filme: Um Grande Garoto, de Paul e Chris Weitz
Ensinamento do dia: Tomar um copo de refrigerante antes de dormir pode causar desarranjos gástricos terríveis.
Corpos de Mulher, Comida, Alcool, Televisão, Cigarros. Os sentidos de Alex eram absorvidos. E a sua personalidade.
Alex passou o domingo consumido pelos sites pornôs. Além de excelentes ensejos para a masturbação, ofereciam uma ampla gama para a consumação do ato sexual no mundo real. Putas, sexo. As punhetas não saciavam. A possibilidade de ter uma mulher, de esfregar sua boca e pênis em um corpo concreto, devorou o seu desejo. Pensamentos. Quisera resistir. Tentou. Ao sair de casa na segunda pela manhã, levou a agenda com os tentadores números de telefone.
Avenida Rio Branco, número 156, sala 1833. A voz feminina que lhe informou o endereço era doce e incrivelmente provocante. Cedeu, iludindo-se de que seria a última vez. Subiu o elevador do prédio comercial imaginando no que iria fazer como uma experiência para os sentidos. A sala do décimo oitavo andar tinha um aspecto asséptico. As putas tinham cara de putas. Eram gordas, com cabelo alisado, artificialmente produzidas segundo a preferência estética difundida pelos meios de comunicação. As três moças se apresentaram, com um ar amoroso e uma fala mecânica. Alex escolheu Kelly.
Não queria consumí-la rapidamente, queria aproveitar aqueles instantes para descobrir-se, de uma maneira que não sabia definir. Pagou uma hora, dinheiro que lhe faria falta, que poderia ser útil em outras coisas. Oitenta reais. Tirou a roupa, tomou uma ducha quente, preocupado em não molhar os cabelos. Odiava indagações, lhe impelia à culpa. Também preocupava-se com a sua carteira, que deixara no quarto. Tentou ser rápido.
O quarto era como um escritório, de paredes feitas de um fino tapume branco, típico de repartições. Cama, mesa de massagens - afinal era uma ¨casa de massagens¨- revistas de sacanagem, um frigobar, uma rádio sintonizada numa estação popular. O ar condicionado era forte. Sentia frio. Saído da água quente, pensava no resfriado que poderia pegar. Kelly entrou. Era gorda, cheia de estrias, tinha de bonito só o rosto. Ofereceu uma massagem a Alex, prontamente aceita. Queria aproveitar bem aquela hora, os complementos íntimos que ficassem para depois. A mulher começo a passar as mãos pelas suas costas, intermitente, desengonçada, era certo que não tinha o menor jeito para a coisa. Deitado de bruços, Alex não relaxava, pensava no tempo. Não passava, sentia tédio. A mulher pediu que virasse. Colocou-lhe o preservativo com a boca. A trepada foi péssima. A visão daquele monte de carne com nome de mulher não o excitava. Gozou rápido, como sempre. A vaca riu. Apesar de impaciente, Alex fez força para ficar até o fim daquela hora. Kelly reiniciou a massagem. O que fazer ante a ditadura do relógio, pensou o jovem. Aquelas mãos grossas passeando pelo seu corpo não lhe causavam prazer ou relaxamento de espécie alguma. Percebia a insatisfação de Kelly pela sua dispersividade, parando a todo momento, inventando desculpas para sair do recinto (melhor nome não traduziria o sentimento de prisão que Alex sentia por aquele espaço). Uma dor de cabeça surgiu-lhe. Vontade de fumar. Após umas palavras gentis e apáticas às putas, pagou e foi embora. Antes de sair, percebeu um quadro, uma figura masculina, postada de frente, abraçando uma feminina, ambas desnudas e sem rostos. Pensou no significado daquele quadro. Pelo menos aquela merda de puteiro tinha uma decoração inteligente.
Ao sair, o jovem ficou refletindo sobre o que fizera. Novamente não conseguiu resistir a sua compulsão, a sua necessidade de consumir. Sentiu-se culpado por aquilo, por sua ansiedade e inércia. Já sabia tudo aquilo de antemão. Fumou uns cigarros, caminhando a passos lentos pelas ruas do Centro. Procurou um bistrô, para tomar um café e escrever sobre a sua experiência. Infantil ilusão, ingênua construção narcisística de uma imagem de intelectual. Nada havia de aprendizado. Criou um personagem com um nome fictício e contou sua estória com palavras de pouca expressão, rápido e impacientemente- o tempo de uma xícara grande de capuccino. Na saída, comprou outro cigarro, lamentando-se com estilo de sua vida infeliz.