sábado, 2 de agosto de 2008

O homem podre na noite

CD: Joshua Tree, U2

Filme: Mundo Cão,de Terry Zwigoff.

Ensinamento do dia: òculos escuros em lugares fechados é uma arrogância ridícula.

Anisha usava calça jeans, camisa branca sem estampa, tênis olympikus de camurça e óculos de grau com armação preta e grossa. A noite era escura e nublada, prometia chuva, mas fazia calor naquele sábado à noite. Saiu sozinho, sem saber muito bem para onde, nem porquê. Sabia somente que queria se divertir, e que certamente não se divertiria. Não perdia a vontade de querer ser um jovem normal. Assim que saiu de casa, acendeu seu cigarro. Seus dentes começavam a apodrecer, alguns já haviam caído, e nas ruínas de sua arcada, Anisha passava as línguas, nervoso, com medo de um câncer de boca. Tinha medo de morrer. Tinha medo de tudo. Queria acabar com isso.
Pegou um ônibus. Foi para a Lapa. Era onde sempre ia parar, por mais que quisesse evitar a mesmisse e criar coisas novas para a sua vida. Queria beber muito, dançar, ser admirado, arrumar uma mulher para fazer sexo. Queria curtir tudo sem culpa. Era difícil. Anisha não tinha nada em sua vida, emprego, amigos, personalidade....Só tinha seus pensamentos de culpa e condescendência consigo. Chegou ao seu destino. Começou a andar, perdido, olhando as pessoas com inveja e admiração, achando-se deslocado mas querendo se alocar. Tinha tesão nas meninas, e nos meninos. Parou em frente a uma boate alternativa. Tomou umas cervejas e fumou uns cigarros, fazendo um estilo falso, vendendo sua imagem, esperando o tesão alheio. Entrou na casa. A música estava boa. Pediu uma cerveja, acendeu outro cigarro e começou a dançar. Tentava pensar que não precisava de ninguém para se divertir e ser feliz. Mas via os outros acompanhados e batia o sentimento de solidão. Dançava sem saber dançar, mas estava longe de não se preocupar com a opinião alheia. Os olhares alheios o oprimiam, sentia-se ridículo, não um louco, loucos são cools, mas um babaca querendo aparecer e digno de pena. Parou e foi ao bar. Pediu outra cerveja. Tinha vergonha de puxar conversa. Se achava feio e sem graça.

Uma menina o atraiu. Tinha cabelos negros, tatuagem nas costas e óculos parecido com os seus. Seria a trepada da noite? A mulher de sua vida? Começou a dançar perto da menina. Tentou trocar olhares com ela. Ela estava acompanhada de amigas. Achou a situação absurda, como ele, tão...tão....tão....demodé, poderia abordar aquela moça. - Olá, achei você linda. - Oi, poderia conversar contigo?- Sua beleza me trouxe até aqui, te desejo absurdamente.Tudo o que pensava parecia insincero, sem imaginação, indigno de atenção. Parou de dançar e voltar para o bar. Estava a menos de uma hora lá dentro. Resolveu ir embora.

Saiu da boate e ficou perambulando pela Lapa. Queria ser legal, mas não conseguia. Ficou um tempo admirando os travestis. Tinha tesão neles. Mas também tinha medo, dos seus desejos, das consequências de sua compulsão pelo prazer. Este era um tabu para ele: prazer!!! Sempre sentia culpa do prazer, não conseguia se livrar do prazer. Pegou o ônibus e voltou para a casa.

Eram duas horas da manhã. As ruas vazias do seu bairro. Chegou em casa, foi para a frente do computador e tocou uma para um vídeo de um belo transsexual e uma mulher. Lavou as mãos da porra que a borrava, comeu três cachorros quentes com refrigerante, escovou duas vezes seus dentes (crente de que ia fazer de sua boca menos podre) e foi deitar-se no sofá onde dormia. Ficou algum tempo olhando para o teto, pensando na vida. A partir de amanhã seria diferente. Sentiu preguiça de pensar. Dormiu.

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