domingo, 15 de março de 2009

Esboço

(Numa sala iluminada pelo sol da manhã, emerge da escuridão um jovem cabisbaixo, de olhar tristonho e com os braços recolhidos junto ao corpo. Sem encarar diretamente a platéia, o rapaz começa a falar.)

De vez em quando, alguns pensamentos me invadem, me corroendo por dentro. São sentidos fisicamente,como se algo estivesse devorando-me o peito. Sinto vontade de extirpar essa chaga que me impede o bem-estar. O sol brilha lá fora, e seus raios adentram a janela. Repugno a vida imersa na claridade invasora, quero ter amigos, estar e gostar de praia, ter o que fazer, algo com o que ocupar a cabeça. O máximo que consigo é acender um cigarro. (Tira do bolso um maço e acende um cigarro) Minha dor e a minha juventude se esvaem a cada tragada, entorpecendo meu cérebro, roubando-me o fôlego. O ponteiro menor do relógio encontra-se quase estabelecido no onze.As horas não passam, mas mesmo assim o tempo é cruelmente rápido. Deus! Vinte e cinco anos. A vitalidade se esgota entre baforadas e lamentações, e nada realizei ainda! Faltam-me palavras para articular a vida. Tantos pensamentos que não encontram expressão na língua nativa. Deveria ter nascido em outro país. Quanta estupidez!! Será que é muito cedo para recomeçar tudo de novo? Tudo vale a pena quando a alma não é pequena, dizia o poeta. Será que a minha alma, cheia de medos e recalques, presa nos horizontes sociais de sucesso e fracasso, é pequena? O que vale a pena?
(Uma claridade mais intensa impele o rapaz novamente para a escuridão, dando as costas para a platéia e saindo de cena.)

3 comentários:

Jaime Guimarães disse...

Boa pergunta...o que vale a pena? Mas 25 é boa idade. Não é 15, mas aos 15 qual era a aspiração? Pois é.

O que vale a pena é ir de encontro aos raios do sol e assim encontrar-se, na claridade, pois na escuridão não se encontra um rumo.

abs!

http://grooeland.blogspot.com

Mariana. disse...

é,tem dias que são assim...cinzentos e vazios...pelo menos nesses dias temos boas inspirações :)
abraço

Meire disse...

Aplausos.
Alguém da platéia que não se levanta, e nem aplaude, fica observado o homem sumir na escuridão, tocada pela cena.
Há muito não ia ao teatro.