quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Automato

Salvador Dalí. Soft watch at moment of first explosion. 1954.

O despertador tocou às cinco e meia. As pernas foram para o chão na intermitência de alguns segundos. O ar povoou os pulmões num inspirar profundo. Os olhos semicerrados marejavam. A passos lentos, o corpo levantou-se, os braços pendulando mortos. Dirigiu-se ao banheiro. À meia escuridão, os pés fincaram parando a estrutura corcunda em frente a pia. A torneira aberta jorrava grande volume e as mãos em concha pousaram sob a torrente. Um movimento espinhal fechou o àngulo perpendicular encontrando as palmas. Após a fricção completa da face, os indicadores escalaram para os cristalinos, limpando assim as secreções que a noite depositara. Uma imagem delineava-se no espelho.


A luz projetando as cores da matéria me convencia: era a porra de mais um dia que começava.

Um comentário:

Meire disse...

Não viajou, não, e bem concordo.
Você tem escrito bastante, hein? E continuas escrevendo tão bem quanto antes.
Bom te ver por lá!