O que falar sobre o amor? Ainda, o que dizer algo a mais além do tanto que já foi dito? Sempre há a dizer algo a mais sobre um sentimento, a medida que cada experiência e cada forma de sentir é singular. Censuram-me por dizer demais que amo as pessoas. Assim como uma palavra possui inúmeros significados, cada enunciação traduz uma relação específica. Eis o que existe de mais irredutível na minha acepção de amor: a palavra sempre incide sobre uma relação ou um desejo por se relacionar. Daí, se expande numa infinitude de ramificações, que constitui isso a que chamamos vida.
Não digo relação como quem diz somente “entrar em contato com”, embora este seja um dos seus principais fundamentos. Quando digo amor a algo ou alguém, digo, antes de tudo, profundidade. Neste objeto encontro não um subserviente à ação, mas uma contigüidade de mim. Constrói-me, assim vivo. É nas tensões mais sofridas, naqueles estranhamentos intensos em que me perco sem qualquer referente disponível, é onde encontro o amor. É no outro que existo, onde adquiro sentido, assisto pelo ângulo impossibilitado pelo ego.
Pode ser que tais reflexões encontrem-se numa espécie de idealização sobre o ser humano. “Homens e mulheres se matam pelo mínimo”, eis o que diz a opinião daqueles que todo dia assistem a crimes absurdos. Nada é pequeno ante os desenvolvimentos possíveis do ato de pensar. Nossos pensamentos são um angustiante campo de possibilidades, em que se desenham narrativas fantásticas e absurdas pautadas em preconceitos inconscientes. Nesses desvarios, acabamos por nos afastar das maravilhas oferecidas pela vida, que somente cobra o preço do risco. Enquanto recompensa, sentimentos desconhecidos, prazeres irresistíveis, paixões intensas e amores (que não precisam de adjetivos).
Ainda há quem fique pensando, quem pondera sobre fatos cujas representações guiam uma leitura do mundo através de categorias essencialistas, a imagem antecedendo à coisa. Essa raiz infeliz acaba por nos aprisionar numa experiência limitadora, eternizando um momento. Reproduzem ou criam regras onde só deveria existir o entregar-se. Foi pelo particular que chegamos a História, é pela fortuna da experiência única que devemos viver.
Não há método.
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