quarta-feira, 19 de julho de 2017

O homem-pássaro

Quando nasci, dizem que não chorei
e sei que comecei a ser o que sou,
apesar de não saber.
Ainda nada sei,
e continuo sendo.
As ausências me atrofiaram as raízes
Em detrimento, parece, das imensas asas que desenvolvi.
Sou homem de dorso grande e pés pequenos
e por em firmamento tombar, avoei.
Nunca parei, descansando pleno ao sabor do vento
e acordado ou enquanto durmo, sou levado.
Minha fome, meu frio, minha dor, minha alegria
era tudo o que eu tinha
e continua sendo.
Das unhas me surgiram garras,
dos dentes, fortes mandíbulas.
Não aprendi códigos, sinais ou palavras
muito menos outros sentidos que não fossem tudo
o que me sobrou de todo o resto.
Minha voz é a expressão do mundo em mim
Olhares, sorrisos, mordidas,
caretas, lágrimas, lambidas,
e continua sendo.
Se por ventura acha que me lês, equivoca-se.
Não há nada a não ser aqui,
e continua sendo e será

até onde não sabemos.

Nenhum comentário: