sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Identidade (I)

Alexandre Cabanel, Ophelia, 1883


Sua pele era tão pálida, e mais ficava junto às suas roupas, cabelos e maquiagem negras. Ouvia sempre uma música muito triste. Dizia a todos que vivia por viver e que em nada acreditava. Sua crença era afirmar a descrença. Lia Nietzsche, Heidegger, Camus, Sartre, e se dizia existencialista. Andava com gente parecida, viviam a fumar cigarros importados, beber cervejas importadas e conversar sobre a aspereza da vida. Tinha aforismos para tudo. Diziam pouco se foder para a miséria e a pobreza, afinal a existência já era em si cruel o bastante. Competiam para saber quem era a pior pessoa, a mais desprezível, a que mais havia sofrido. A menina era conhecida principalmente pelos panegíricos contra o amor, mas vivia sempre enrolada num novo relacionamento dedicado a dar errado, e lamentava-se a cada homem que a decepcionava, ou a quem decepcionava.


Era incrivelmente feliz assim!

Nenhum comentário: