sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Olhos de realidade

Era umas nove e pouco da noite e vinha de Botafogo no metrô, sentado e pensando no filme que havia acabado de assistir. De repente, passeando os olhos pelo interior do vagão, deparei-me com outros que me encaravam. Estava entre a terceira e quarta fileira de cadeiras na minha diagonal, num pequeno espaço deixado pelas pessoas sentadas a sua frente.  Via sua imensa cabeça, quadrada de nordestino, uma blusa aberta nos primeiros botões, talvez fosse gordo. Desviei o olhar, pensando ser uma mera coincidência, mas toda vez que passava meu olhar naquela direção, encontrava aqueles olhos, cheios de raiva, ameaçadores. Engoli seco, um gelo me subiu pela espinha, e busquei evitar aqueles olhos.

Concentrei-me num casal aparentemente gay que adentrou o vagão na estação do Flamengo, mas  não saia da minha cabeça toda uma cena, do homem vindo na minha direção a me fazer algum mal de que nunca saberia. Os garotos perceberam a minha atenção, e para evitar constrangimentos maiores, desfoquei deles. Para meu alívio, os olhos do homem não mais me fitavam. 

Ele levantou e desceu na Central, sem me encarar. Começo a acreditar que o que tanto temi não estava naqueles olhos.

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