A raiva quer
bater, ódio destruir. Raiva é gripe, ódio câncer. Raiva é como unha no
quadro negro, ódio um zumbido agudo e contínuo, barulho de gota permanente. Raiva
expulsa, ódio elimina. A raiva é dor gritada, ódio espinha de peixe.
A raiva pode
ser expressão de amor. O ódio é tão avesso do amor quanto dois irmãos. A raiva
tem o limite de tempo que dura uma indignação. Ódio dura gerações, eras,
reencarnações. A raiva é lógica, ódio não ‘é’. Raiva é revolta, motim,
sublevação, insurreição, revolução. Ódio é extermínio, genocídio, crimes contra
a humanidade. A raiva é individual, momentânea, expressiva, instintiva. A raiva
é animal, ódio só poder ser humano. O ódio é a vontade capaz de extinguir uma espécie.
Não se
inventou uma linguagem para o ódio. Ódio é o mais intenso sentimento de
autoconservação e de autodestruição. O ódio só conhece o homicídio
e o suicídio simultâneos. O amor pode se transformar em ódio como dois
negativos multiplicados se transformam em positivo. O ódio não se transforma em
nada, não transforma nada. Ódio é erva daninha de raiz profunda. Ódio é
infertilidade. Um campo contaminado por ódio não floresce por cinquenta
gerações. Ódio é radioatividade.
A própria
ideia de inferno foi construída pelo Ódio. Assim como toda ideia de um Deus
onipotente. Só um Deus que ama pode odiar, só um Deus que perdoa pode castigar.
Toda ideia de perfeição baseia-se no ódio.
Por isso
nascemos em pecado: para nos odiar. Se apenas nascêssemos....