domingo, 15 de maio de 2016

Nostalgia

Dia 20 de janeiro vou à Igreja de São Sebastião.

Dia 13 de maio dedico o primeiro café preto do dia ao Preto Velho.

Não faço por fazer, mas por querer fazer. Não sei como fazer, não precisa. Basta ir à igreja, acender uma vala, comprar umas fitas do padroeiro com a intenção de distribuir aos amigos. Não sei rezar. Faço uma prece sem fé e digo em silêncio um Padre Nosso como quem canta o hino nacional.

Basta fazer o primeiro café do dia. Água pra ferver, pó de café, coador. Uns dedos num copo, coloco na janela. Depois de um dia, retiro o copo, mofado de sereno. Nada peço, e se peço, também é sem fé. A fé não é uma opção. Nunca soube a fé, nem a senti.

Faço mais para lembrar, para reviver a lembrança. Faço para ouvir meu pai contando a estória de como quase morri de pneumonia quando nasci e da promessa que o meu avô fez por mim para que sobrevivesse. Faço pelo carinho da minha vó que colocava o café todo 13 de maio para que o Preto Velho me protegesse. Em toda ocasião possível, em todo mínimo sucesso que alcançava, me lembravam disso. Sujeito abençoado devia ser.

Mas o mundo que me prometeram quando criança não se cumpriu. Meus heróis se desfizeram na miséria de sua realidade ou morreram. A magia se diluiu em superstição. Não esse mundo que me contaram. Não foi pra ele que me preparei.




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