No almoço comi tanto que quase morri. Perto do hospital, uma roda de samba me fazia lamentar a cuíca de gemidos senis a que estava destinado.
No quarto de hospital conversei com um pregador sobre a Bíblia na medida em que a conversa, e não a pregação, fosse possível. Nos últimos tempos está mais fácil ou menos difícil conversar sobre religião do que política.
Na volta para casa, ainda em Acari, um cachorro quase me atacou. Um homem afastou o cão, de forma mais civilizada do que os homens se separam. Fiquei aproximadamente uma hora tremendo e pensando nas razões espirituais do ataque. Por mais que ache as aspas bonitas, acredito no sobrenatural.
No metrô avistei um homem negro de chapéu de palha com cabelos e barba branca que me lembrou um preto velho e me apaziguou um pouco. Ao desembarcar no Estácio, um jovem com deficiência tombou e algumas pessoas o auxiliaram. Enquanto escrevo em pé, à espera da composição no sentido Afonso Pena, uma mulher de meia idade me encarava com hostilidade. Neste instante, ao descer para casa, uma idosa me pede para esperá-la, pois o elevador do metrô pode não estar funcionando. Está e levo pelas escadas o agradecimento pela gentileza.
A praça Afonso Pena está cheia de crianças. São seis da tarde. Uma batida de funk preenche o fundo de vozes agudas e dos atritos dos pés velozes. Sento à luz fraca dos refletores altos e escrevo.
Uma latinha de cerveja. Sim, agora.
Na subida da rua, dois cães começam a se agredir no momento em que passo. Não sei o que carrego, não sei do mundo, do sobremundo ou do submundo, mas escrever me alivia.
domingo, 15 de maio de 2016
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário