Palavras-Chave:
identidade, experiência, produção de si, construção social
A
identidade é uma estória de si sobre si. É histórica na medida em que esta
narrativa é sempre produzida “na relação” com o mundo social em que vivemos, o
que se refere não apenas aos contatos com nossos parentes, amigos, professores
e colegas, mas também com às imagens e discursos que formam nossos valores
estéticos (belo e feio), éticos (certo e errado) e morais (bom e mau). Toda “representação”
da realidade, na forma de imagens ou de discursos, são construídas ao longo do tempo. Por isso,
históricas.
Embora
a construção da nossa identidade seja elaborada por meio de imagens e discursos
que precedem a nossa existência, não determinam necessariamente nossa visão de
mundo e de nós mesmos. Primeiro porque somos sujeitos de sensibilidades e
sentimentos que atuam criativamente no contato com essas representações.
Sensibilidades e sentimentos também históricos, logo não determinados. Segundo,
porque as representações do real são múltiplas, diversas, contraditórias,
enfim, humanas. São frutos de experiências, ou seja, de um encontro criativo do
ser humano com a realidade. Portanto, o processo de construção de nossa
identidade é aberto e imprevisível, visto que é impossível determinar as
possibilidades de intervenção das experiências de mundo sobre as existências
individuais.
Fruto
do contato com imagens e discursos socialmente compartilhados num mundo
histórico e do processo único e indeterminado de cada indivíduo - que são as experiências
em si - a construção identitária é indissoluvelmente individual e social. A forma
como nos percebemos está sempre relacionada
ao mundo social em que nos encontramos. Somos alguém “em relação”, que nos
identificamos dentro de uma linguagem comunicada numa realidade compartilhada.
A
qualidade histórica dessa matéria-prima pela qual distinguimos nossa humanidade
e construímos nossa existência social e
individual – a linguagem – se constituí da heterogeneidade de experiências
sociais acumuladas ao longo dos anos, décadas, séculos. Pelos signos,
significados, imagens e discursos, as vidas humanas compartilhadas no espaço –
que convencionamos chamar de sociedade – se fundamentaram, estruturaram e
organizaram. O estabelecimento das convenções que conformaram a vida social
humana ocorreram em torno da seleção, dentro da heterogeneidade, de determinadas
categorias, historicamente consideradas úteis parao convívio. Como todas as
escolhas, também excludentes de outras formas de representação e percepção do
real. Portanto, a linguagem, enquanto forma exclusivamente humana de percepção,
representação e organização do real, guarda em si as conflitualidades geradoras
das hierarquias constituídas historicamente nos espaços. Hierarquias
geracionais, de casta, de gênero, de raça, variáveis espacial e temporalmente.
A
complexidade da realidade social expressada na linguagem não poderia estar
ausente do processo de construção identitária. A identidade social, construída
na relação do indivíduo com uma realidade social estruturada sobre uma miríade
de hierarquizações e conflitos sociais, é um processo multifacetado
transcorrido nos diversos espaços em que nos relacionamos. Identidade social, espacial,
política e cultural; identidade de raça, de classe, de gênero, de geração,
inscritas na nossa caracterização estética, na nossa forma de falar, nos nossos
gostos, no conteúdo de nossos discursos. Todas expressadas, com maior ou menor
peso, nas nossas auto-narrativas e nas narrativas que contamos sobre o mundo
que vivemos.
Quando
observamos que nossas narrativas ocorrem a partir de um universo linguístico e
imagético imerso num mundo histórico perene de relações de poder, descobrimos
novos significados de nossa existência. Percebemos lugares antes despercebidos,
e ao assumí-los, ocupamos um lugar político. A potência destas descobertas
produz novas identificações – seja em relação a negritude, a condição feminina,
a sexualidade, ao lugar social – que se relacionam e nos vinculam a outras
existências com quem compartilhamos experiências de mundo semelhantes.
A
multiplicidade destes novos lugares assumidos nos instrumentaliza para uma leitura
e atuação mais ampla, autônoma, empoderada e crítica na realidade. Principalmente,
perceber os caracteres históricos, relacionais e compartilhados de nossa
existência, e quanto nesses lugares comuns somos políticos, mesmo sem nos
darmos conta. Na diferença em que nos identificamos como únicos e comuns, nos
descobrimos imersos numa realidade em que existem oprimidos e opressores.
O conhecimento
histórico possui uma potencialidade imensa no processo de constituição
identitária. Ao conhecermos os processos sociais, econômicos, políticos e culturais
que nos precedem e situam, produzimos identificações que localizam nossas
narrativas em outras narrativas mais amplas. Nos descobrimos secularmente no
tempo, lugar da mudança.
Dinâmica – identidade
1) Formar
uma roda junto com a turma.
2) Distribuir
uma folha de papel A4 para cada 4 estudantes. Pedir para dividam o papel em 4
partes e dividam entre si.
3) Sem
deixar que os amigos vejam e sem identificação, pedir para cada estudante
escrever em seu pedaço de papel cinco características, expressões, qualidades
em que acham que são identificados pelos com que convivem.
4) Recolher
os papéis, misturá-los e redistribuí-los aleatoriamente. Pedir para os
estudantes olharem se não pegaram seu próprio papel.
5) Cada
estudante vai dizer para turma o que está escrito em seu papel. A turma vai
tentar identificar quem se trata.
6) Após
o fim da atividade, perguntar aos estudantes sobre suas impressões acerca das
identificações produzidas e debater coletivamente as conclusões a que podemos
chegar.
7) Debates
com a turma sobre o significado da identidade, a historicidade de sua
constituição e a importância do conhecimento histórico na auto-reflexão sobre
si mesmo na relação com mundo.
8) Pedir
aos estudantes produzirem, por escrito, uma auto-narrativa, refletindo as
questões discutidas anteriormente.